Amensalism

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Em resposta ao concurso PLE promovido pelo IATA – Instituit D’Ensaignement des Arts, Techniques, Sciences et Artesanats – situado em Namur (Bélgica), cujo tema é «O pombo-correio como forma de resistência e meio de comunicação» durante a 1ª Guerra Mundial.

 

Dei início à pesquisa das causas e ideologias que levaram a este conflito, entre as quais se destacou o Darwinismo Social. Este conceito levou-me a pensar que quer na natureza, quer na Sociedade, as relações em ambos os casos, se assimilavam a cadeias alimentares. Podendo ser harmoniosas ou maioritariamente desarmônicas. O conceito do amensalismo surgiu durante a minha pesquisa como o equivalente ao que aconteceu durante esse período. O amensalismo consiste numa relação desarmônica, na qual uma das espécies mata a outra, por meio de substâncias que produz e liberta, sem com  isso se beneficiar. O equivalente aplicado ao Homem, consiste na produção de armas e gases utilizados durante a guerra para matar o outro. Apropriando-me deste conceito, comecei por pesquisar formas que me permitissem desenvolver uma peça que estabelecesse uma relação amensalista com o utilizador. Esta temática foi cumprida através de uma pesquisa paralela dos pontos vitais e das linhas meridionais do corpo humano. Estes pontos têm diversas funções, podendo ser benéficas ou não (por vezes, podem levar à morte, paralisia ou à paragem temporária de sistemas biológicos corporais). Nesta peça pode-se observar a materialização dos quatro compostos vitais, ou seja a água, a terra, o fogo e o ar. Estes estão subjacentes à forma da peça que teve origem numa simplificação formal do diagrama "Tree of Life".

Resistência e comunicação são conceitos simultaneamente materializados. É necessária resistência para poder utilizar esta peça pois a sua utilização é desconfortável visto que simbolicamente mutila o utilizador. Comunicação, pois fala por si mesma- a guerra mata, "devora" e mutila todos os envolvidos. Quem utiliza esta peça é apenas mais um elemento que sofre as consequências, acabando por ser condecorado como um ser puramente amensalista.

 

Em retrospectiva concluo que o poder de comunicação por meio da Ourivesaria é, para além da nossa limitada perceção, um forte elemento da sociedade ao longo de séculos. Esta peça, para mim, materializa todas as ideologias e todo o meu modo de apropriação de um acontecimento histórico e bastante marcante. Teve o poder de me despertar para uma realidade que até então não me era próxima.

 

Em período de guerra ninguém pode ser considerado um vencedor por completo. Não há vencedores, apenas vencidos, o rasto de dor é inapagável e por gerações a vitória passa a ser uma utopia.